segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O QUE TERIA ACONTECIDO COM O FUTURO?

O Que teria acontecido com o futuro?
Por Lano de Lins

Um jantar à luz de velas é lindo, romântico, encantador. Quem não gosta? A suavidade da luz. O movimento delicado da chama. A beleza do fogo. O aconchego do leve calor... Mas o que aconteceria conosco se o fogo ainda fosse o único meio de iluminar nossa sala de jantar a noite? O que teria acontecido com o mundo se um “louco” não tivesse, a partir de elementos modernos e um arrojado bulbo de vidro, inventado a lâmpada? Fechar fábricas de velas? Longe disso!!! Mas sim, dar uma guinada na realidade humana e proporcionar uma série de possibilidades. Um “click” rápido, um flash e uma forte emissão de luz. “Agressiva demais!”, poderia a vela dizer. Porém, mais apropriada para se ler um livro ou banhar uma rua. “Rápido demais!”, diria o candelabro. No entanto, com a praticidade que o homem moderno precisa.
É claro que, como tudo que é importante, não foi fácil de ser alcançado. E o primeiro obstáculo foi mesmo o travado interiormente por Thomas Edson. Uma inconformidade interna que o moveu a não se acomodar com o fato de ter que rodar toda a casa, apagando vela por vela antes de dormir. E de deitar inalando aquele cheiro de cera queimada. Dessa forma ele tentou centenas de vezes em busca de... quebrar a tradição? Não! Mas de acrescentar meios de proporcionar opções. Fracassos? Sim... Ridicularizado? Foi... Desistiu? Nunca! O que teria acontecido se ele tivesse desistido? Se a bela “tradição” das velas tivesse sido perpétua. Se o “correto” tom da luz das chamas nunca questionado. Se o cheiro de pavio queimado fosse nosso eterno “boa noite”... O que aconteceria conosco? Mas ele prosseguiu...
Portanto, o que seria do nosso teatro, se “loucos” não pegassem a contra-mão da tradição cênica e criassem “coisas arrojadas”? Bulbos de vidro ou acrílico. Rápidos como um flash. Uma luz forte, agredindo a retina. “Não fazendo teatro” e ao mesmo tempo marcando o Tempo. Abrindo a cortina para inúmeras possibilidades teatrais futuras? --- Destruindo? Não. Acrescentando. Iluminando o caminho à frente para prosseguirmos. Para onde? Para “onde” não ficamos parados. Eu não quero ficar parado. Aliás, adoro um movimento. Muito movimento. Foram esses ridicularizados loucos cientistas da arte, esses excluídos que nos permitiram o mundo que temos hoje. Eu quero ser um louco. Quero ser ridicularizado. Quero ser totalmente excluído. Só não quero ficar parado.
P s. Nesse momento escrevo com o auxílio imprescindível da luz que vem de um bulbo de vidro, preso de cabeça para baixo, no teto do meu quarto. E isso pra mim é normal. Mas adoraria sair depois para um belo jantar a luz de velas. Adoraria mesmo!

Recife
01 de Julho de 2007

DISCURSO INAUGURAÇAO TEATRO ALFREDO

Gente, eu vou ter que ler. Porque eu não tive tempo de decorar. E vocês sabem que DECORAR é a coisa mais difícil em Teatro, né? Vamos lá.



Boa noite Senhoras e Senhores, sejam bem vindos ao nosso NOVO teatro. O TEATRO ALFREDO DE OLIVEIRA. Estamos aqui reunidos esta noite para mudar uma realidade. Se não inteira, pelo menos um pouco da parte que nos cabe. Então vamos começar mudando o estilo deste “discurso” e o transformando numa “conversa”. Em alguns momentos um desabafo, pois percebo que estou diante de “amigos”, e numa ótica mais apropriada ainda, de “irmãos cênicos”. Pois é assim que os considero.

Estamos aqui pra comemorar iniciativas. A começar pela minha, de me aventurar aqui, passando pela do meu pai, que literalmente “pagou pra ver”, e terminando na iniciativa que vocês tiveram hoje, dia PRIMEIRO de JULHO de 2008, de virem, pela primeira vez, ao NOVO TEATRO DE RECIFE. O Teatro Alfredo de Oliveira, reafirmando o desejo do Doutor Valdemar de Oliveira em ter, nesta sala, o nome de seu irmão, Alfredo de Oliveira. Um homem que, assim como Doutor Valdemar, merece ser lembrado e honrado para sempre.


Agora permitam-me falar um pouco de mim. Que eu espero também seja lembrado quando eu me for. (nossa, que dramático). --- Na verdade o meu sonho é estar nas páginas do MEMÓRIAS DA CENA PERNAMBUCANA 8.

Eu nunca me vi fazendo outra coisa, que não fosse estar aqui, num palco. Isso se dá por uma simples razão. As duas bandas de mim, antes de eu existir, já estavam brilhando sobe os refletores.
Josamir e Fátima, meus pais, faziam teatro juntos em Fortaleza. Meu pai, ator e “faz tudo”. Enquanto os outros se preparavam pra entrar em cena, maquiando-se para fazerem sua linda estréia, ele corria de um lado para o outro, dando os últimos ajustes no cenário. Preocupado com o sucesso do espetáculo, mais que em si mesmo. (Isso me lembra outra pessoa que eu conheço).
Minha mãe, uma atriz de mão cheia. Fazia do drama a comédia, sempre se destacando. Além de tocar com maestria violino.
E deveria tocar bem mesmo, pois tinha em mãos, na época de seu casamento, um bolsa integral pra estudar violino nos Estados Unidos. Anos depois eu disse: “A Senhora devia ter ido!!!” - Brincadeira !!! (O pior é que eu disse mesmo).

Bom. Eles; Ensaiaram, Namoraram, Casaram, “Consumaram”e nasceu JOSILANO AUGUSTO COSTA... ops... LANO DE LINS, eu. Antes mesmo de ter consciência do que é “teatro” minhas brincadeiras preferidas eram sempre envolvendo personagens. Índio, pirata,... bailarino.... Sei disso pelas minhas fotos de criança. Mas não era uma questão apenas de figurino, era de atitude. - Duas dessas fotos são especiais. Numa mesma tarde, numa roda daquelas fotos de primos na casa da vó, estou eu em dois momentos. - Primeiro, vestido com um par de suspensórios, um óculos raiban de plástico, assim ***. Na segunda, alguns momentos depois, estou eu, só de cueca, de chuquinha na cabeça, a boca toda borrada de baton vermelho, assim. *** (A culpa é da minha mãe.)
Tem uma que minha mãe ta ajoelhada do meu lado, segurando a minha mão, (porque aos 8 anos agente não tem muita técnica né?) e eu vestido de índio, assim. *** (Fazendo ponta, viu?). E atraz uma televisão onde se vê, Glória Pires e Fábio Jr., olhando pra mim e fazendo assim. (NAOOO)
Bom, mas as minhas fotos de criança são um caso a parte.

E aqui estou eu, 31 anos depois do meu nascimento. (32 em agosto) Ator (com um pouco mais de técnica) autor, diretor, maquiador, performer, figurinista, (eletricista, pintor, encanador... arquiteto... decorador... (Só não sou cabeleireiro, tá?) Nestes 7 anos de trabalho aqui em Recife, tive o prazer a trabalhar com o maioria dos grandes nomes do teatro pernambucano. Aprendendo importantes lições e admirando cada um a seu modo. Do mais moderno ao mais tradicional. Pois amo o teatro, não importa o estilo.



Mas acima de tudo um “sonhador”. Por que pra mim, o Sonhos são reais. Por que eles existem. Quantas e quantas vezes eu peguei uma folha em branco, um lápis. Desenhei. E depois vi “aquilo” de verdade na minha frente. /Bem.. aqui com o Alfredo eu fui mais chique, usei Computação Gráfica. Fiz um desenho em 3D. Hehehe. (Não foi Reynaldo?) Dava pra ver perfeitamente como iria ficar. E confesso, ficou melhor. (Não foi Reynaldo?)



O processo de transformação foi que nem um parto. Primeiro, alguns diziam: - CORAGEM!, VIU? / Depois: SEI NAO... / Mais adiante: AQUI VAI TER O QUE?... Quase no final da reforma, o povo entrava aqui e já tava dizendo: MENINOOO ! Mas o melhor foi uma que entrou e disse: “TO EMOCIONADA. TU ATÉ ARRUPIADA! (Foi Célia, a camareira do TAP, eu digo logo)

Por falar em TAP. Permitam-me abrir um parêntese DOURADO, pra falar da imensa alegria que me ocorreu dia ____ de ______. Fiz minha estréia no INCOMPARÁVEL ÍCONE DO TEATRO PERNAMBUCANO, NO MAIS ANTIGO GRUPO AMADOR DA AMERICA LATINA. O TEATRO DE AMADORES DE PERNAMBUCO. “Amador” no melhor sentido da palavra. Por que na realidade o grupo deveria se chamar “Teatro de MESTRES de Pernambuco” Não tenho palavras pra descrever a honra que é fazer parte desta tradição. E logo em seu espetáculo mais representativo. “Um sábado em 30”, no papel do garanhão ROMEU. (Busquei inspiração naquela minha foto do Raiban) *** (Brincadeira). Eu comecei a fazer teatro profissional a 16 anos, e já tinha perdido um pouco daquele friozinho que dá na barriga, quando agente vai estreiar. Mas com o TAP, meninoooooooo.....Só não me borrei pra não sujar o figurino. Já pensou eu entrando em cena todo sujo. A platéia ia dizer: (TAPA NARIZ) - Menino, é naturalista mesmo!

Foi, passei mal. Não foi Renata? Mas graças a Deus deu tudo certo, dei o óbulo a Dona Geninha, comi a Renata,... ops.. Filó. Comi Filó... Oxe Renata... Renata é minha amiga... Também é minha mãe na Paixão de Cristo de Moreno, onde eu sou Jesus e ela Maria.

Enfim espero que o “Sábado em 30” seja pra mim apenas o começo de uma longa história com o TAP. Quero ficar no grupo os próximos 60 anos. (Tá Reynaldo, vou logo avisando.)

Bom.. saindo lá do palco do Valdemar e voltando aqui pro palco do Alfredo.

Vocês podem estar se perguntando: “Por que construir um teatro?”. ....( ) Claro que vocês não estão se perguntando isso!!!! É público e notório que, em se tratando de palcos, somos carentes em Recife. E é por tudo o que envolve essa carência que decidimos apostar aqui. Com medo claro, Por vários motivos. Mas eu tive a coragem de querer isso e o Sr. Lins.. meu pai, teve a coragem de me apoiar. Sim senhores e senhoras, por que é preciso coragem pra investir todas as suas reservas financeiras em Teatro. E quando eu digo TODAS... eu não estou exagerando. Ele sacrificou sua tranqüilidade financeira, após anos e anos de trabalho, para realizar isto que os Senhores estão vendo. + 2 meses de trabalho diário, e noites em claro. Aborrecimentos e contrariedades. Mas eu espero que isso lhe traga também algumas felicidades. E acredito que trará. / E vai para ele o meu primeiro agradecimento especial. A sr. JOSÉ JOSAMIR LINS COSTA, meu pai. Que esteve comigo, me apoiando desde a minha primeira peça. Que faz tudo que pode e o que não pode por mim, muitas vezes sem que eu mereça. E algumas vezes, sem que eu precise pedir. E vai para ele, meu PAITROCINADOR o meu mais profundo... OBRIGADO.


Tenho também outras pessoas importantes para agradecer. Meu irmão de Alma Edhnaldo Reys. Com quem eu sou praticamente casado. (Casado mais sem sexo viu gente. A quem diga que ele não arruma um namoro, por que só vive encangado comigo.Nada a ver viu minha gente) / Agradeço o seu apoio de irmão. Mais que irmão, por que irmão briga, e agente nunca briga. Espero poder ter você sempre comigo e que possamos crescer juntos.

A Marcos Portela, o administrador do teatro Valdemar de Oliveira que tão bem nos recebeu, dando sempre a melhor assistência possível. E por ter nos aberto a porta deste prédio. Ao doutor Reynaldo de Oliveira, por nos permitir entrar por esta porta. Pela confiança incrível que nos depositou. Pondo em nossas mãos um pedacinho do tesouro do doutor Valdemar de Oliveira para que nós déssemos um “polimento”. (Vocês acreditam que o povo é tão desconfiado que até me perguntaram se eu era da família dos Oliveira?.... Mas sabe que eu até que fiquei pensando em mudar meu nome pra: LANO DE OLIVEIRA?) Brincadeira!!!! (Brincadeira não!... eu pensei mesmo!!!)

Gostaria de agrader a DODA, o técnico de luz do Valdemar, pelo suporte. A Zil, da lanchonete por deixar agente lanchar fiado. (Eu disse FIADO). A BATATINHA pelas idéias. A Nito e Missite pelo grampeador que eu peguei empestado. Aos meus amigos aqui atraz, que vão se apresentar pra vocês daqui a pouco. Aos parceiros, BOBBY MERGULHAO, TONY RODRIGUES, AUGUSTA FERRAZ e ROBERTO OLIVEIRA, que são os primeiros produtores a acreditar neste novo espaço, formando a primeira temporada do Teatro Alfredo. (Merda pra Nós!!!) Muito o brigado pela confiança.

E por ultimo, mas não menos importante, agradeço a todos vocês, por nos honrar com sua ilustre presença, formando a primeira de muitas e muitas platéias. (que esperamos seja sempre cheia).

Para encerrar, gostaria de lembrar uma parábola de Jesus, sobre uma pobre velhinha que foi ao templo de JERUSALÉM e, diferente dos demais, que traziam como oferendas, aves, ovelhas, bois inteiros, trouxe apenas 1 moedinha. Jesus diz nessa parábola que essa simples moedinha, de valor muito pequeno, valia para Deus mais do que 1 boi inteiro de um homem que tinha mil outros bois. Por que era tudo o que a velha senhora tinha, e que estava sendo dado de coração.

Senhores o TEATRO ALFREDO DE OLIVEIRA é apenas uma moedinha, mas está sendo oferecido a cidade com todo nosso amor.... a cultura, a arte e ao NOSSO TEATRO.

Obrigado.